O tambor e raízes africanas das Festas de
Romaria
Associado ao tambor e a formas tradicionais
com raízes africanas temos o Kolá, típico das Ilhas de Santo Antão e S.
Vicente. Curiosidade o tambor está sempre ligado às Festas dos Santos. Em
Santiago, a Tabanka tem uma mística africana que mergulha na Religião Católica.
Aliás como acontece no Brasil, onde uma mistura do catolicismo e ritos
religiosos africanos se expressam nos rituais do Iemanjá, do Candonblé e
Macumbas.
Em Cabo Verde, as raízes africanas ligadas
ao ritmo do tambor sofreram uma assimilação da religião cristã, devido à
evangelização dos nossos antepassados escravos e incorporaram elementos da
cultura europeia (rituais das Festas dos Santos). Por isso nestas Festas, o
tambor não louva ou evoca entidades e deuses pagãos do nosso continente. Nestas
Festas o “ritmo do tambor” louva o S. João, S. Filipe, S. Pedro, Santa Cruz...
A dança, que nosso continente acompanhava esses rituais desapareceu quase por
completo, por ser contrária aos costumes cristãos. O Torno – rebolar sensual
das ancas é um exemplo que ficou. Como reminiscência dessas danças do
continente africano, temos ainda o Kolá (de que resta a umbigada) cuja origem
ainda carece de mais explicações.
Não há dúvida que o Batuque e estes ritmos
poderão ter uma mesma origem. Apenas o Batuque persistiu e resistiu à
assimilação completa conservou a dança e não incluiu elementos da religião cristã.
Pudera! Em Santiago havia mais probalidades dessa resistência: Ilha maior, com
muitos escravos fugidos. Para as outras ilhas (povoadas depois), com certeza
que foram enviados escravos mais dóceis, já ladinizados (sem contar com os
carregamentos directos é claro). A grande verdade é que dessa mistura do
europeu e do africano nasceram estas formas de música e ritmos tipicamente
nossos, cabo-verdianamente como o Kola. (Texto difundido em 29.MAR.87).
A forma é do
tambor europeu. Recorde-se, tanto o tambor europeu com este híbrido cabo-verdiano,
são parentes em primeiro grau dos tambores africanos. A origem deste
instrumento de percussão remonta à antiguidade... existe desde a pré-história.
O tambor em
Cabo Verde está bastante difundido, é popular em todas as ilhas, onde existem
formas e modos peculiares para sua utilização. Existem três pólos diferentes
quanto à utilização do tambor: em Santiago e no Maio na Tabanka, no Fogo no
Pilon e Canizade (Festas da Bandeira), na Brava (Festas de Santos), e em S.
Vicente, Santo Antão, S. Nicolau e Sal, no Kolá (também Festas de Santos). (Texto
Difundido no prgrama Bom Dia Cabo Verde 26.MAR.87).
No essencial,
estas Festas dos Santos nas Ilhas de Barlavento incluem uma parte profana com o
toque de Tambores (do tipo europeu), as “Coladeiras” (mulheres que cantam e dançam)
e o ritual do “Mastro”. A parte religiosa inclui a missa e a procissão. Vê-se
pois que estas festas são muito semelhantes no seu fundamento com as da Ilha do
Fogo embora sem o longo e complexo ritual destas.
As Festas de
Romaria ou dos Santos Populares duram pelo menos três dias, e conforme a ilha
onde se realizam notam-se ligeiras diferenças nos rituais profanos. No geral,
nos dias que antecedem o festejo do Santo, realizam-se actividades recreativas
e desportivas, confeccionam-se doces e bolos, prepara-se o milho e matam-se os
animais (leitões, galinhas, cabras e capados) para a preparação dos pratos para
o banquete do grande dia. Note-se que os rituais de Matança ou do Pilon,
reminiscências da longínqua mãe África, desapareceram nas ilhas de Barlavento.
Isso deve-se, talvez à repressão sistemática feita pelas autoridades religiosas
e outras, bem como pelos próprios patrões.
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