sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O tambor e raízes africanas das Festas de Romaria
Associado ao tambor e a formas tradicionais com raízes africanas temos o Kolá, típico das Ilhas de Santo Antão e S. Vicente. Curiosidade o tambor está sempre ligado às Festas dos Santos. Em Santiago, a Tabanka tem uma mística africana que mergulha na Religião Católica. Aliás como acontece no Brasil, onde uma mistura do catolicismo e ritos religiosos africanos se expressam nos rituais do Iemanjá, do Candonblé e Macumbas.
Em Cabo Verde, as raízes africanas ligadas ao ritmo do tambor sofreram uma assimilação da religião cristã, devido à evangelização dos nossos antepassados escravos e incorporaram elementos da cultura europeia (rituais das Festas dos Santos). Por isso nestas Festas, o tambor não louva ou evoca entidades e deuses pagãos do nosso continente. Nestas Festas o “ritmo do tambor” louva o S. João, S. Filipe, S. Pedro, Santa Cruz... A dança, que nosso continente acompanhava esses rituais desapareceu quase por completo, por ser contrária aos costumes cristãos. O Torno – rebolar sensual das ancas é um exemplo que ficou. Como reminiscência dessas danças do continente africano, temos ainda o Kolá (de que resta a umbigada) cuja origem ainda carece de mais explicações.
Não há dúvida que o Batuque e estes ritmos poderão ter uma mesma origem. Apenas o Batuque persistiu e resistiu à assimilação completa conservou a dança e não incluiu elementos da religião cristã. Pudera! Em Santiago havia mais probalidades dessa resistência: Ilha maior, com muitos escravos fugidos. Para as outras ilhas (povoadas depois), com certeza que foram enviados escravos mais dóceis, já ladinizados (sem contar com os carregamentos directos é claro). A grande verdade é que dessa mistura do europeu e do africano nasceram estas formas de música e ritmos tipicamente nossos, cabo-verdianamente como o Kola. (Texto difundido em 29.MAR.87).
 O tambor na música de Cabo Verde é um instrumento tradicional, confeccionado artesanalmente e com uma técnica tradicional muito boa: peles curtidas (em geral pele de cabrito), cordas para esticar e afinar, casco de madeira ou de metal (lata), este o material mais utilizado.
A forma é do tambor europeu. Recorde-se, tanto o tambor europeu com este híbrido cabo-verdiano, são parentes em primeiro grau dos tambores africanos. A origem deste instrumento de percussão remonta à antiguidade... existe desde a pré-história.
O tambor em Cabo Verde está bastante difundido, é popular em todas as ilhas, onde existem formas e modos peculiares para sua utilização. Existem três pólos diferentes quanto à utilização do tambor: em Santiago e no Maio na Tabanka, no Fogo no Pilon e Canizade (Festas da Bandeira), na Brava (Festas de Santos), e em S. Vicente, Santo Antão, S. Nicolau e Sal, no Kolá (também Festas de Santos). (Texto Difundido no prgrama Bom Dia Cabo Verde 26.MAR.87).
No essencial, estas Festas dos Santos nas Ilhas de Barlavento incluem uma parte profana com o toque de Tambores (do tipo europeu), as “Coladeiras” (mulheres que cantam e dançam) e o ritual do “Mastro”. A parte religiosa inclui a missa e a procissão. Vê-se pois que estas festas são muito semelhantes no seu fundamento com as da Ilha do Fogo embora sem o longo e complexo ritual destas.

As Festas de Romaria ou dos Santos Populares duram pelo menos três dias, e conforme a ilha onde se realizam notam-se ligeiras diferenças nos rituais profanos. No geral, nos dias que antecedem o festejo do Santo, realizam-se actividades recreativas e desportivas, confeccionam-se doces e bolos, prepara-se o milho e matam-se os animais (leitões, galinhas, cabras e capados) para a preparação dos pratos para o banquete do grande dia. Note-se que os rituais de Matança ou do Pilon, reminiscências da longínqua mãe África, desapareceram nas ilhas de Barlavento. Isso deve-se, talvez à repressão sistemática feita pelas autoridades religiosas e outras, bem como pelos próprios patrões. 

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